Empreender e Teologar

"A convergência de dois olhares específicos em prol do bem comum"


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Quem é a grande família de Deus Pai?

Por Robson Cavalcanti

Referência bíblica

“Naquele tempo, 20Jesus voltou para casa com os seus discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. 21Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si. 22Os mestres da lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios. 23Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: “Como é que Satanás pode expulsar a satanás? 24Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. 25Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se. 26Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. 27Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. 28Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. 29Masquem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”. 30Jesus falou isso, porque diziam: “Ele está possuído por um espírito mau”. 31Nisso chegaram sua mãe e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. 32Havia uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura”. 33Ele respondeu: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 34E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. 35Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

Introdução

Um ótimo dia para todos vocês! A Paz de Cristo irmãos e irmãs! Me confiaram estar fazendo a reflexão do dia de hoje. E eu confesso que eu fico muito feliz porque faz muito tempo que não o faço, mas me dá medo porque hoje as leituras trazem textos difíceis de serem explicados e pensados em tão pouco tempo. E se eu tentar explicar todos, vocês não vão me aguentar falar por tanto tempo. (risos)

Bom, os textos de hoje vem falar de medo, de vergonha, de pecado, de esperança, de fé, de conflitos, sobretudo da vontade de Deus. É muito difícil falar de todos com profundidade, mas vou me esforçar ao máximo tá ok. Mas, eu creio de devemos focar sempre no evangelho! Porque o Evangelho nos faz discípulos de Jesus Cristo! Nos faz cristãos! No início, lá no capítulo 1, no 1 versículo está escrito assim: “Começo da boa noticia de Jesus Cristo Filho de Deus” Eu creio que o evangelho deve ser sempre boas notícias para nossa vida. E para que seja de fato, eu gosto de começar explicando um pouco o texto.

Bom para a gente começar a entender, vamos lembrar que domingo passado, o evangelho falava do sábado, do que era permitido e o que não era permitido, e encerra curando o homem no dia de sábado lembram? Quem leu a bíblia essa semana, percebeu depois do texto do domingo passado o evangelho falou da cura junto ao lago e da escolha dos Doze Apóstolos. Já o texto de hoje vem na continuidade, no mesmo evangelho. Eu sempre penso que o texto é escrito por algum motivo e sempre me pergunto: porque esse texto foi escrito? O que será que estava acontecendo na época? Porque ele escreveu assim? O que ele quer dizer?

A resistência ao projeto de Deus

Hoje o evangelho começa dizendo que Jesus voltou para casa. Ele está no ambiente familiar, com os familiares, parentes e amigos próximos. Mas veja que coisa, são os próprios parentes que acham que ele estava possuído! O Mestre da lei então, já disse que estava possuído por um demônio, que não é qualquer um, mas o príncipe dos demônios.

O evangelho hoje nos mostra que a resistência ao projeto do Reino de Deus também infiltra na família e entre os amigos próximos que não compreende a boa notícia! Eles procuram parar sua atividade de alguma forma usando até mesmo da força “agarrando-o”. Blasfemam feio dizendo que Jesus é o diabo. Uma acusação gravíssima para desacreditar toda a missão de Jesus. Uma acusação absurda da qual Jesus rebate com grande sabedoria. Primeiro explicando que um Reino dividido, uma família dividida, não viverá. E depois que Satanás não pode expulsar satanás, pois estaria destruído.

Jesus é o enviado de Deus

Ou seja, Ele já provou que é fiel a Deus e venceu Satanás desde a tentação no deserto e nas variadas curas relatadas desde o capítulo 1 deste evangelho. E encerra dizendo que atribuir a Satanás o que é ação de Deus é blasfemar contra o Espírito Santo e quem não aceita estes claros sinais da ação de Deus se fecha a Deus e ao perdão pelo qual se vence Satanás e recusando o perdão não poderá também recebê-lo.

A família de Deus

O texto continua dizendo que “seus irmãos e sua mãe estão lá fora”, ou seja, afastam-no da sua família deixando-a em segundo plano para agredi-lo. Alguém reclama o fato querendo saber quem tem prioridade, talvez até testando Jesus. Mas Jesus decide a questão com autoridade respondendo que: A família é muito importante para Deus, e por isso o Pai que está no céu quer formar uma nova família, definida por quem de fato quer fazer e faz a vontade de Deus. A começar por sua mãe Maria que disse seu precioso Sim para que Deus se encarnasse, se fizesse humano e habitasse entre nós e depois todos os discípulos que decidiram segui-lo.

Lições para a vida

Hoje nós podemos perceber que não é tão diferente. Ainda há nas famílias aqueles que questionam e brigam com seus pais, filhos, parentes e amigos por causa do Reino de Deus. Cabe a nós como discípulos e missionários de Jesus dar o mesmo testemunho do nosso Mestre. E eu quero sugerir pelo menos duas possibilidades de testemunhar esse Jesus Cristo Vivo em nós!

Primeiro, analisar nossa vida e pensar se estou vencendo as tentações, as provações, para tentar fazer a vontade de Deus ou estou mais empenhado em dar desculpas e ficar dizendo que não consegue, que não tem tempo, que não sabe, que não dá, ficando mais parecido com Satanás?

Segundo, se doando ao projeto do Reino de Deus, buscando de alguma forma ser mais próximo da grande família de Deus, como por exemplo: querendo fazer alguma coisa na comunidade de fé, aqui mesmo, desde rezar um terço, fazer uma leitura, ajudar de alguma forma, seja esforço humano e físico limpando, varrendo, arrumando alguma coisa, seja com dinheiro doado, seja participando da vida da Igreja, participando de encontros ou fora da comunidade de fé, levando o evangelho para a família parentes e amigos, os vizinhos, orações aqueles que não conseguem por algum motivo vir na comunidade, ou buscando reaproximar aqueles afastados da igreja por alguma mágoa passada, ou ainda se envolvendo em projetos sociais ajudando os lascados da vida, sendo discípulos missionários pregadores do evangelho no meio em que vivem, na escola, na política, no trabalho, no cotidiano da vida.

Por fim quero finalizar lembrando da primeira leitura que fala do medo e da vergonha do ser humano ao comer do fruto proibido e desobedecer a Deus, querer ser igual a Deus, viver como que acima de Deus como se não precisasse de Deus. Fala também da forma em que nós gostamos de culpar os outros pelas nossas falhas como Adão fez, ou de dar desculpas por termos falhado, como Eva fez. Mas Deus nunca vai perder a Fé na gente e por isso diz que somos capazes de ferir a cabeça da serpente que tenta a gente a não fazer a vontade de Deus e esmagá-la mesmo que ela morda o nosso calcanhar fazendo a gente falhar.

E Paulo diz para não desanimarmos porque estamos sustentados pelo mesmo Espirito de fé que ressuscitou Jesus Cristo! E por isso é abundante as graças de Deus em nossa vida tanto quanto mais pessoas consigamos trazer e fazer crescer a família de Deus para a glória de Deus!  Que a missão assumida vá nos renovando dia após dia, nos nossos atos e palavras, que as dificuldades são momentâneas e pequenas comparado com a graça e a glória de Deus para conosco!

E tudo isso acontece quando escolhemos viver uma vida dedicada a Deus, ao Reino de Deus a missão de Deus mesmo que ainda seja algo invisível aos nossos olhares, mas eterno e com futuro certo!

Depois destas maravilhosas palavras da Bíblia aqui lidas e ouvidas, eu queria encerrar convidando todos vocês a confiar em Deus e gastar um pouco dar sua vida de alguma se entregando a Jesus e renovando sua fé ao se colocar à disposição de Deus e ao seu projeto de coração e Espírito para que enfim possamos nos sentir de verdade, parte da grande família de Deus!

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

Por ocasião do 10 domingo do tempo comum, nove de junho de 2018. Ano do Laicato


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O Surgimento do termo “Leigo” na Igreja Cristã 2ª Parte

Neste post procurarei dar alguns exemplos da participação dos cristãos leigos e leigas nos quatro primeiros séculos do Cristianismo em continuidade com o primeiro post: O Surgimento do termo “Leigo” na Igreja Cristã 1ª Parte.

Robson Cavalcanti[1]

23-04-2014

Para ler o texto em PDF acesse: O Surgimento do termo Leigos na Igreja Cristã 2ª Parte 

Sobre o termo “la»kçv” especificamente, é identificada sua aparição pela primeira vez na carta de Clemente aos Romanos (96-98 d.C),[2] indicando a distinção entre aqueles com funções rituais baseadas na hierarquia do AT e leigos: “Aos sumos sacerdote foram confiadas tarefas particulares, aos sacerdotes um lugar próprio, aos levitas certos serviços e o leigo liga-se pelas ordenações exclusivas dos leigos,”[3] ou seja, há uma organização hierárquica ao mesmo tempo que permanece viva a Igreja de ministérios e carismas. No capítulo 41.1 da mesma carta encontramos a seguinte observação que transmite essa idéia: “Irmãos, cada qual de nós agrade o Senhor em sua função, vivendo de boa consciência, não transgredindo as regras de seu ofício e exercendo-o com toda dignidade.”[4]

É importante destacar que a maior parte das conversões ao cristianismo nos dois primeiros séculos se deu, sobretudo, pela ação dos leigos e leigas e não somente graças aos bispos e sacerdotes.[5] Esta ação se dava pela mediação de cristãos de todas as condições sociais. Ricos ofereciam suas casas para os encontros das comunidades que eram formadas, eram as igrejas domésticas. Na classe popular, aconteciam os gestos de amor, sinceridade e conhecimento mútuo, sobretudo das inquietudes que cada um trazia nos corações, onde Cristo realiza o resgate total da escravidão do pecado, para conferir às pessoas a liberdade de filhos e filhas de Deus[6].

Entre estes cristãos leigos, é possível destacar algumas pessoas que marcaram a história através dos gestos de amor e fidelidade ao Cristianismo em tempos de prevalência da perseguição e clandestinidade. Como exemplo, Tertuliano, Orígenes, Justino, Inácio de Antioquia e os milhares de Mártires, entre eles Santa Luzia.

Tertuliano.[7] Proclamou aos pagãos os frutos da missão cristã, dizendo que os cristãos encheram todos os espaços da sociedade pagã, com exceção do templo. Impactado pela realidade do martírio conclui: “crescemos toda vez que somos ceifados por vós: o sangue dos mártires é semente de cristãos”.[8]

Orígenes.[9] Considerado o mais genial dos didáscalos leigos. Viveu no período onde os leigos detinham o direito de pregar em público a título oficial, considerando este contexto em que o critério não era a ordenação, mas a capacidade de ajudar os irmãos.[10]

Justino. Filósofo palestinense, nascido provavelmente nos primeiros anos do segundo século e martirizado em Roma entre 163 e 167 d.C. autor da obra Apologias e outra chamada o diálogo com Tifão.[11]

Inácio de Antioquia. Atuou entre o fim do primeiro e início do segundo século, nomeou vários leigos e leigas como colaboradores da obra, entre eles Onésimo, Euplo e Frontão da Igreja de Éfeso, Alce Dafno, Eutecno, na Igreja de Esmirna.[12]

Os mártires. Cristãos cuja fé está baseada em uma entrega total e incondicional a Deus revelado em Jesus Cristo num compromisso levado até as ultimas conseqüências, ou seja, até a morte. A morte de Estevão (At. 6-7) serve de chave hermenêutica para essa nova fé e testemunho pelos quais muitos homens e mulheres também doaram suas vidas. Dentre estes mártires, citamos Luzia como exemplo. Uma jovem que optou pela vida consagrada a Jesus Cristo, fazendo com que seu pretendente ao matrimônio a denuncia-se ao pró-consul que mandou decapitá-la. Sua frase marca o martirológio cristão: “O corpo só se contamina se a alma consente!”[13]

Considerações

O intuito principal destes dois textos era trazer à tona as variadas compreensões que o termo “leigo” sugere e que os fiéis e a hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana o interpretam, a possibilidade de um resgate da memória, na tentativa de desfazer equívocos e distorções, visando forjar uma nova compreensão a respeito do termo leigo para atualidade. Há uma esperança de transformação na concepção pejorativa e negativa do termo para uma concepção apreciativa, positiva e relevante, principalmente para os fiéis e para a hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana, que muitas vezes estão em constante tensão. Os leigos e leigas na Igreja dos primeiros séculos evidenciam um ser humano ativo, comprometido, protagonista, um cristão autêntico. Que hoje também nós leigos e leigas possamos encontrar caminhos para manter esse legado.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Antonio José de. Leigos em Quê? Uma abordagem histórica. São Paulo: Paulinas, 2006. 374 p.

BIBLIOTHECA PATRISTICA. Carta aos coríntios. São Clemente Romano: Fonte:<http://www.scribd.com> acesso em 17-01-2009.

CAVALCANTI. Robson. Vocação Pastoral do Laicato: Uma reflexão teológica sobre os leigos a partir da comunidade Cristo Ressuscitado, São Paulo-SP. São Bernardo do Campo, 2012. 90 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Teologia) — Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2012.

 Notas:

[1]     Leigo, Católico, Teólogo e assessor da comissão de teologia e formação do CLASP.

[2]     ALMEIDA, 2006. op. cit., p. 29 e 30 passim.

[3]     BIBLIOTHECA PATRISTICA. Carta aos coríntios. São Clemente Romano: Disponível em: <http://www.scribd.com> acesso em 17-01-2009. p. 27.

[4]     BIBLIOTHECA PATRISTICA. Carta aos coríntios. op. cit., p. 27.

[5]     ALMEIDA, 2006. op. cit., p. 31.

[6]     Ibidem, p. 31 e 32 passim.

[7]     Primeiro apologista africano do cristianismo nos anos 197 e 217 d.C. Nasceu por volta da metade do segundo século e morto depois de 220. Atuou em Cartago.

[8]     ALMEIDA, 2006. op. cit., p. 32-39.

[9]     Datado entre os anos 185-254 d.C, se destaca entre os cristãos por sua apologética missionária.

[10]    ALMEIDA, 2006. op. cit., p. 32-39.

[11]    Idem.

[12]    Idem.

[13]    Idem.